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terça-feira, 18 de agosto de 2015

Blam! Blam! - É para balançar o esqueleto sem deixar de prestar atenção no texto

Voltei a escrever aqui. Por terapia.
O último texto foi publicado no Retropleco há mais de quatro anos! Quatro anos! Nada mais justo que retornar com uma coceira existencial enorme de um limbo fantasmagórico com o interessantíssimo disco do carioca Jonas Sá.
Lançado este ano (se não me engano, abril de 2015), Blam! Blam! marca de cara por uma sonoridade que, ao menos para este que vos escreve, prende. Não menos cronísticas são suas letras que parecem nascer de maneira modelar para as levadas e toda cama de sonoridade variada que perpassa todo o disco.
Curioso é que eu já havia lido algo há um ano, mais ou menos, sobre a polêmica que girou entorno do segundo trabalho do Sá: as empresas de impressão não queriam pegar o trabalho temendo serem boicotadas pelo público gospel. Motivo: A negra nua com os pelos pubianos em posição que cansamos de ver no carnaval brasileiro! O encarte de dentro não é menos erótico e não menos representativo, há uns machos pelados também. O engraçado é que quando eu peguei o disco e fui pagar a caixa comentou: “Pensei que era um cd do É o Tchan!


Sobre toda a polêmica da capa recusada, sugiro clicar aqui e aqui.
É um trabalho conceitual, da capa, encarte até o principal: letras, melodias e sonoridades. Há um balanço quase natural. Não à toa Jonas Sá é parte de toda uma leva talentosíssima de artistas que vem desde os anos 90 construindo a caminhada e que mesmo tendo uma formação próxima, por osmose até, de ancoras da música brasileira, conseguiram construir um caminho próprio e que agora colhem por merecimento os frutos da labuta (me refiro ao Kassin, Moreno Veloso, Pedro Sá, etc., etc.). Essa moçada sabe produzir e produzir bem, vide o último disco da Gal Costa!
A preguiça e o ferrugem nos dedos não me permitem ir mais longe – minha gente, estou voltando, espero – mas 8 Bit já abre o disco de maneira estrondosa e dizendo à que veio!
Gigolô é puro falsete, umas cordas que te remetem às discotecas dos anos 70, puro boca de sino! São 14 faixas. Não vai rolar falar sobre todas, mas destaco a faixa homônima que descreveu minha preguiça (Não vai rolar) pois tem uma levada muito bacana!
A produção é do próprio Jonas, já conhecido nessa função (seu primeiro trabalho teve os dedos do Moreno Veloso e do Bartolo) e conta com a participação de um time de primeira de músicos. Mais curiosidades, clica no Google que ele te dá!

Se você gosta de sexo, precisa ouvir esse disco! Não me lembro como eu encerrava os textos/conversas por aqui, sendo assim! Axé!

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Lembranças Cariocas – Aquilo que você cresceu ouvindo



Eu sei, há tempos não apareço por aqui. Vida atarefada. Mas esse texto tem um gosto especial – vai além da tinta e do papel. Estou no Rio de Janeiro, aliás, estou por aqui já faz pouco mais de um mês. Merecidas férias. Nessas férias, nessas andanças e visitas ao bom e velho Centro comprei um dos meus mais queridos Cds e que tenho ouvido constantemente.
Pode ser um paradoxo escrever sobre esse belo trabalho, lançado pela Biscoito Fino em 2010, intitulado, bem precisamente de, Lembranças Cariocas, justamente estando no Rio de Janeiro...
Tendo à frente da direção musical e roteiro Lefê de Almeida, Lembranças Cariocas é um desses verdadeiros minuciosos trabalhos de história da música carioca (ou produzida no Rio de Janeiro há um pouco mais de 50 anos) e antes que alguém me acuse de estar sendo bairrista, este trabalho vai muito além das canções tipicamente cariocas como Copacapana (Braguinha e Alberto Ribeiro), Na Subida do Morro (Moreira da Silva e Ribeiro Cunha) ou as impecáveis e super conhecidas composições de Bidê e Marçal (A Primeira Vez, Madalena foi ao Samba, Nunca Mais, Barão das Cabrochas, Velho Estácio e Vila Isabel). A gente encontra nesse legítimo “biscoito fino” composições do grande Dorival Caymmi (Baiano de nascimento, mas, com certeza, carioca de adoção): Sábado em Copacabana (em parceria com o carioquíssimo Carlos Guinle), Não tem Solução e Nem Eu. Temos ainda do pouco conhecido do grande público Fernando Lobo (mais um que faz parte dessa leva de talentos vindos do nordeste nos anos áureos de Rio de Janeiro como capital do Brasil), pai do grande compositor Edu Lobo, a bela composição em parceria com Antônio Maria: Ninguém me Ama.
À frente de músicas como Alvorada (Cartola e Carlos Cachaça), Risque (Ary Barroso) e Nunca (de Lupicínio Rodrigues) um trio que representa, para mim, parte da nata do novo samba carioca, sim, aquele mesmo ligado a famosa revitalização da Lapa: Pedro Paulo Malta, Pedro Miranda e Nilze Carvalho (que você pode desfrutar ou no Sururu na Roda ou voando solo, tempos bons aqueles que eu, praticamente, pulava a janela da universidade e estava no Centro Cultural Carioca!).
O Cd, muito inteligentemente, funciona num esquema quase constante de pot-pourri! Muito bem arranjadas, as canções foram pensada num roteiro que nos prende desde o primeiro acorde. Confesso, que algumas canções sofrem uma variação que assusta, acredito que funcionam muito bem ao vivo, melhor, funcionaram muito bem ao vivo, naquele esquema gafieira, sabe? Pro pessoal não sair do salão! Mas, como eu disse, no cd, às vezes, dá uma assustada... Porém, nada que comprometa.
Fechando com chave de ouro, tenho que falar nas participações mais que especiais: Cristina Buarque, cantando o clássico Me Deixe em Paz (Monsueto e Airton Amorim) com Nilze, Paulão (em Barão das Cabrochas ao lado do bem humorado e certeiro Pedro Miranda) e, por fim, o grande Chico Buarque, declamando a belíssima (e dificílima) poesia de Carlos Drummond de Andrade, Canto do Rio em Sol.
No instrumental, gente como Marcelo Bernardes nas flautas e Marcos Esguleba na percussão... No coro, engrossando o caldo Teresa Cristina, o próprio Paulão e Cristina Buarque.
Lembranças Cariocas é um alento certeiro na memória de um suburbano, carioca da Baixada Fluminense como eu... Que ainda tem vivo (e que agora nunca mais se apagará) na memória mulheres subindo o morro e cantando: Lata d’água na cabeça, lá vai Maria, lá vai Maria... ou então, quantas vezes não ouvi meu avô em sua oficina (ele era sapateiro), fumando seu cigarro, ao lado do seu radinho de pilha cantarolando: Chora Estácio, Salgueiro e Mangueira, todo Brasil emudeceu. Chora o mundo inteiro, Chico Viola morreu...
Pois é, como disse o grande Drummond que, por maldade, foi eternizado como estátua de costas pro mar: Rio novo a cada menino que nasce/ A cada casamento/ A cada namorado que te descobre como rio-rindo. Assistes ao pobre fluir dos homens e de suas glórias pré-fabricadas (trecho do poema Canto do Rio em Sol). É isso rapaziada... E vamos seguindo!
Você pode comprar o Cd Lembranças Cariocas, clicando aqui!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

“Ninguém percebeu mais o samba perdeu sua voz de lamento” (O Lamento do Samba – Paulo César Pinheiro)


O tempo é um drama. Impossível domá-lo, tampouco, entendê-lo. De tal forma “água que vira vinho só traz loucura” (Estrela partida) já diria esse grande poeta que me faz tentar vencer a folha em branco, já quase amarelada pelo mesmo tempo indomável – certo que essa analogia antiga não cabe mais, mas, por favor, me libertem de profundas especulações. De chulapa, dedico esse pequeno texto para a grandeza do “sergipano mais mesquitense que conheço” e que logo pisará solo carioca para sentir o bumbo do peito ao som do bumbo de sua escola do coração, a bela Portela: Aquino Neto!
Dia desses, com uma empolgação de menino, veio com análises profundas sobre a obra do mestre João Nogueira, aquele nascido no subúrbio dos melhores dias, por coincidência do destino, filho de um sergipano... Atento à sua fala, sugeri observar o mais constante parceiro do grande sambista. Na verdade, sempre aconselho as pessoas a olharem mais para os letristas! Tempos idos, me presenteia com o belíssimo cd O Lamento do Samba de Paulo César Pinheiro que um tanto acanhado, degustando uma germana (quem conhece cachaça mineira sabe do que estou falando) passo descrever para vocês. Afinal, bate papo bom se conduz em mesa de bar!
Lançado em janeiro de 2004 pelo selo Quelé (parceria entre a ótima Biscoito Fino e a maravilhosa Acari Records), O Lamento do Samba é uma ode ao samba, belíssimo trabalho blindado por músicos esplêndidos e talentosos e que demonstra o trabalho autoral de Paulo César Pinheiro (sem parcerias).
A música que abre essa verdadeira enciclopédia do samba dá nome ao disco, com versos certeiros e melodia belíssima, Paulo César Pinheiro demonstra que não é só um excelente poeta como um compositor preciso. Ao mesmo tempo, faz uma importante critica sobre a trajetória do samba na contemporaneidade:

Nos dias de hoje
O samba ficou diferente
Não tem mais dolência
Mudou a cadência
E o povo nem sente
Sua melodia
É uma falsa alegria
Que passa com o vento
Ninguém percebeu
Mas o samba perdeu
Sua voz de lamento.

Quando eu canto na roda de samba
Um samba que é mais antigo
A moçada se cala, escuta, aprende,
E ainda canta comigo
O que falta pra quem faz um samba
É a tristeza que vem de outro tempo.
Quem não sabe a ciência do samba
Vai fazer o que pede o momento.
O segredo da força do samba
É a vivência do seu fundamento.
O que faz ser eterno um bom samba
É a beleza que tem seu lamento.

Sem dúvidas Pinheiro tem autoridade para falar da “ciência do samba”... O arranjo de Maurício Carrilho (violão na faixa), acompanhado pelo majestoso cavaquinho de Luciana Rabello e pelo bandolim de Pedro Amorim deixa a letra mais melancólica e saudosista, muito, também, graças ao ritmo conduzido pela baqueta do bom e velho Wilson das Neves (bateria e tamborim) e cia.
A já citada rapidamente, Estrela partida é outro belíssimo samba, acompanhado pelos mesmos instrumentista, mas com ótimas pitadas de flauta (Marcelo Bernardes) clarinete (Pedro Paes) e clarone (Rui Alvim). Destaque para o ótimo coro composto nada mais nada menos por: Alfredo Del-Penho, Amélia Rabello, Ana Rabello, Anna Paes, Cristina Buarque, Pedro Paulo Malta.
Uma das canções que mais mexem comigo, é a faixa Nomes de Favelas – sem comentários. O texto todo poderia ser sobre ela! Só uma palavra: sambão! Sim, sambão, daqueles de todo mundo cantar junto na roda com copo de cerveja na mão! Destaque pro Wilson das Neves na cuíca...
Gosto muito também da canção As pedras se cruzam, muito por conta do violão do Maurício Carrilho... Na verdade, o conjunto: Bateria (Wilson das Neves), Baixo elétrico (Dininho), mais o violão dá um quê interessante ao “samba-despedida-recordação”:

Apesar
Da vida nos separar
A gente vai se encontrar
Em qualquer canto de rua.
De manhã,
Numa esquina de algum lugar
De tardinha num vão de bar
Ou numa noite de lua.


Amor ausente é outra pérola dos cadernos do Paulo César Pinheiro, destaque para o solo de trombone de Roberto Marques. Você jamais e Fechado por dentro são canções impecáveis, principalmente, pelo coro e flauta (Álvaro Carrilho) na primeira e o sax tenor na segunda (Eduardo Neves).
Sublime paixão, que palavra? Sublime! Sublime o cavaquinho da Luciana Rabello, o violão de sete cordas tocado pelo Maurício Carrilho... Vale a citação dos versos iniciais: “Paixão é o delírio de quem se entrega/ É arrebentação que carrega/ É a raíz de onde brota a loucura”.
A faixa seguinte, Samba de tristeza, o terno flauta (Marcelo Bernardes), clarinete (Pedro Paes) e clarone (Rui Alvim) executam frases impecáveis de merecer moldura na parede. Mais uma letra forte, marca profunda do trabalho de Pinheiro.
Mais uma vez, Maurício Carrilho demonstra precisão nas 7 cordas do violão e harmonia a levada do cavaquinho de Luciana Rabello... o ritmo conduzido majoritáriamente por Celsinho Silva (tamborim, pandeiro, ganzá e agogô) e por Cabelinho (bumbo) dá a esse samba aquela atmosfera noturna gostosa do subúrbio. Temporário, é outra bela canção que merece atenção e cerveja gelada!
Atenção ao tamborim em Meu sofrimento! É uma sina dá uma levantada no disco, um ar mais churrasqueiro. Considero essa um sambão também para se cantar junto, sei lá, mas acho que merecia um coro a estrofe inicial que se repete duas vezes.
Meia-água tem uma letra otimista, me lembra até um pouco o velho Cartola. Lembra muito aquela coisa do boteco de subúrbio, a parceria do copo, do cara chegar cansado do batente, pedir um traçado de pinga cabisbaixo e de repente aquela batida firme nas costas de alento: o convite para sinuca, para a sueca, pro buraco... Enfim, aquele tipo de hábito que só quem viveu no subúrbio sabe como é!
Fechando com chave de ouro, Quando eu me for é o sambão do disco, tanto que já vem puxado por um tradicional “laia laia laia, laia, laia, laia...”. Primeira estrofe repetida duas vezes, ritmo firme, frases constantes de trombone, o 7 cordas com o bordão firme! Apesar da temática morte permear todo o samba, não é lamento. Não é a morte que Paulo César Pinheiro lamenta nesse seu belo disco, seu lamento é outro, seu lamento realmente é do samba que anda perdido, o bom e velho samba! E isso, nesse cd, meus amigos, vocês vão encontrar de sobra! Valeu Aquino Man! Puta presentão!

segunda-feira, 24 de maio de 2010

A Psiquiatria de Aldir Blanc – Vida Noturna


Escrever sobre a mitológica figura de Aldir Blanc Mendes, este carioca nascido no Bairro do Estácio em 2 de setembro de 1946, por si só já se configura uma loucura da minha parte. É como mergulhar num poço sem fundo, sem saber exatamente aonde chegar. Não que o conjunto de sua obra não siga uma linha coesa, não que suas palavras não tenham sentido ou mesmo sua postura como artista brasileiro, mas, muito mais, por mim mesmo: há tanta coisa que eu queria escrever sobre! Ah, quanta coisa!
Se os mais desavisados, acredito que não haja muitos, não souberem de quem se trata, basta assoviar rapidamente canções como “O Bêbado e o Equilibrista”, “Dois prá lá, Dois pra cá”, “Kid Cavaquinho”, “O Mestre Sala dos Mares” e eu ia ficar aqui dias e dias, tempos em tempos, listando seus grandes sucessos em parceria com o grande João Bosco – isso porque citei apenas composições em parceria com este, imagina se eu começasse a citar junto ao seu nome Moacyr Luiz, Paulo César Pinheiro, Maurício Tapajós, Guinga...
Fiquei na dúvida na escolha do disco no qual eu me basearia para falar sobre a arte de Aldir Blanc. Fiquei realmente entre a cruz e a espada. Mais especificamente, entre “Rio, ruas e risos”, Lp de 1984 feito em parceria com Maurício Tapajós, no qual Aldir coloca sua voz malandreada e boêmia em diversas canções, ora dividindo o vocal com Tapajós, ora sozinho, e “Vida Noturna” de 2005. Os dois discos são bons. Vale uma audição minuciosa. Contudo, escolhi aquele de melhor acesso nas prateleiras das boas lojas de cd’s.
Produzido por Moacyr Luz, Thomas Roth e Zé Luiz Soares para a gravadora Lua Discos, “Vida Noturna” é um belíssimo tratado de psiquiatria boêmia e deve ser biscoitinho prateado (que saudade do vinil) certo nas noites de qualquer casa, apartamento, boteco ou reunião de amigos em torno da santa garrafa de cerveja gelada! Antes de tudo: é belo. Mais que tudo: é forte. É um pávido colosso poético! Você realmente estremece ao ouvi-lo. Pois é uma viagem a um cotidiano noturno: e toda escuridão é profunda. E isso o psiquiatra Aldir Blanc Mendes sabe muito bem!
Este cd é marcado, ainda, pela retomada de uma parceria há muito abandonada, é o reatar de uma amizade sonora entre as belas harmonias de João Bosco e as fortes palavras de Aldir Blanc (ver: “Vida Noturna” e “Me dá a Penúltima”, onde, em todas as duas, Bosco também dá o ar de sua graça cantando e tocando violão).
Os cuidadosos arranjos do magnífico Cristóvão Bastos (se não o conhece, já é sacrilégio, porém, basta folhear alguns discos do Chico Buarque ou Edu Lobo e saberás de quem estou falando!) e seu piano muito bem casado com os violões de João Bosco, Moacyr Luz, João Lyra, Guinga e o grande Hélio Delmiro, dá um ar de bar. Dá um cheiro de conhaque. De álcool. Aliás, a parceria de Aldir com este último (“Constelação Maior”) é de chorar por tão belo violão. Hélio Delmiro continuo grande! Com o querido Moa, o poeta da Tijuca, de Vila Isabel, do Estácio... assina “Recreio das Meninas II” e “Dry”, absurdamente boas! Na primeira, a história de um velho apreciador de samba e freqüentador do Renascença (quem é carioca sabe onde fica) é uma viagem maravilhosamente divertida e doce na qual Moacyr Luz e Aldir Blanc dividem o vocal. “Dry” é mais pesada, o eu lírico feminino amargurado é muito bem interpretado pelo próprio Aldir – com voz potente e firme –, o solo de violão de João Lyra sustentado pela segura base do piano de Bastos... sem palavras, eis a letra:

Você foi embora falando que eu era até gente boa
Mulher não tolera essas frases que homem a toa costuma dizer.
Lembro as toalhas molhadas no chão, fios de barba na pia
E rezo a Virgem Maria pra que filha minha não pegue homem assim.
Eu me sentia um cinzeiro repleto das pontas que você deixava
E que ironia essa imagem:
A guimba apagando é quando mais queimava.
Você saiu dando tchau
Brincou que ao meu lado era o tal
Fiquei pendurada no adeus como um velho avental
Foi amor de trapaça e de tara e de beijo na nuca, de tapa na cara
Andei meio louca sem ser maltratada
Parei com esse vício, mas quase morri
Hoje somente se bebo o dia seguinte pode me afetar
É que a secura me lembra teu jeito de amar.


Ainda temos uma parceria com Maurício Tapajós (“Flor de Lapela”); a ótima “Lupicínia” com Jayme Vignoli; “Cordas” com o grande Guinga (que participa com o violão e voz) e, por fim, “Resposta ao Tempo” junto com Cristóvão Bastos, aliás, pianista que deveria ser conhecido pelas novas gerações. “Resposta ao Tempo” com Aldir Blanc e “Todo Sentimento” com Chico Buarque, só estas duas canções, apenas, já deveriam canonizar as harmonias do Cristóvão Bastos na imortalidade!
Sem parcerias, Aldir assina em “Vida Noturna”: “Dois Bombons e Uma Rosa”, “Velhas Ruas” e “Paquetá, Dezembro de 56” que certificam o casamento entre o poeta indiscutível e o ótimo melodista.
“Vida Noturna” é um cd que vale a pena o preço que for para ter na estante, como um livro, como um tratado. 12 músicas. 12 respostas ao tempo. Depois de ouvir “Vida Noturna”, só posso citar o próprio mestre (e esse é o tratamento dado por Moacyr Luz a Aldir Blanc): “Um riso de aurora e a pressão subiu/ Peguei meu remédio, mas as mãos tremiam e o vidro caiu/ Chutei a caixinha, pedi caipirinha, pernil e café/ Receita infalível pro meu coração é um corpo moreno de mulher...” (Trecho de “Recreio das Meninas II”).
Deixo para vocês que conseguiram ficar comigo até o fim desse papo, o ótimo clipe da canção “Me dá a Penúltima” com a presença no estúdio de diversos ases aqui já citados! E saravá!








domingo, 7 de fevereiro de 2010

“Macunaíma também anda de pedalinho”: Delírio Carioca – Guinga



Produzido por Zé Nogueira e gravado entre janeiro e fevereiro de 1993, Delírio Carioca (Velas, 1993), segundo disco de carreira do dentista-violonista, compositor e há algum tempo cantor, Carlos Althier de Souza Lemos Escobar, conhecido mundialmente, simplesmente, como Guinga, tem uma pá de coisa que me impressiona: melodias e harmonias que não beiram à perfeição, são ela manifestada e eternizada em sons; ritmos diversos que são indefiníveis para um pobre ouvinte como eu e, por fim, as fortes letras de Aldir Blanc, esse cronista carioca que utiliza as palavras como um turbilhão de imagens que de tão cariocas-suburbanas se tornam universais. Ainda há espaço, mesmo que em uno para a impecável letra (Saci, segunda faixa do disco) de Paulo César Pinheiro, outro ás da poesia musical brasileira e parceiro de grandes nomes da música do nosso país.
Como de sempre, fico com os clássicos enquanto meu amigo Aquino Man se encarrega do que há de novo pelos arados musicais do nosso mundo. A escolha de Delírio Carioca não foi à toa, depois de duas semanas de volta a Aracaju, dessa vez acompanhado da esposa e companheira de luta e labuta, esse tem sido o som que mais tenho ouvido no player. Por coincidência da vida, recebo um e-mail do meu querido Gustavo Alvaro me informando que havia comprado um songbook do Guinga por uma bagatela numa feira de livros no Centro do Rio. Ficamos então no bate-pronto.
Comentei com ele sobre esse esplendoroso trabalho e enumerei as músicas que para mim se destacavam. Quando terminei, percebei que todas as 15 canções eram fenomenais. O primeiro disco de Guinga, assinado em parceria com Blanc, Simples e absurdo, já era um absurdo de bom, porém, nesse novo trabalho, continuando com as ótimas participações musicais, assim como ocorreu no primeiro, dessa vez: repetindo a dose, Fátima Guedes (cantando Passarinhadeira), Djavan (cantando de forma primorosa, a faixa que dá nome ao trabalho), Lucia Helena (divina em Choro pro Zé), Leila Pinheiro (em Baião de Lacan) e Boca Livre (entoando Visão de Cego), Guinga vai além e continuou indo até o recente Saudades do Cordão (Biscoito Fino, 2009).
As belas canções Canção do Lobsomem e Catavento e Girassol, as duas em parceria com Aldir Blanc e cantadas por Guinga, merecem reverência eterna, não só pela complexidade das melodias, mas, também, pelo casamento perfeito com as letras do Aldir. Versos marcantes!
Acredito que para todo aspirante a “tocador” de violão, Delíro Carioca é um divisor de água. Guinga deveria virar nome de praça em Madureira, onde nasceu. Guinga deveria virar nome de método de composição (que saudade do Chediak!). Enquanto caminho pelo calçadão da 13 de julho em Aracaju, vendo o vai e vem dos carros e das pessoas, que saudade que aperta do Rio de Janeiro e me imagino ouvindo os acordes do violão do Guinga sendo entoados no Teatro Rival ao lado do Zé Rentato, do Jardes e do Moacyr Luz... um deliro! Carioca, um delírio!

Delírio Carioca(Guinga - Aldir Blanc)

No Rio: mar.
Ouço Netuno assoviar
um Gershwin Clara Nunes
qua faz vibrar feito flauta
os túneis.

Um cisco no olho azul da Lagoa:
sozinho,
Macunaíma anda de pedalinho.

No Rio-Festa,
Porgy and Bess
tapeiam mais um turista argentino
e o chope é fino no azul cristalino.

E vem num avião um Jobim azulão
e a chuva é flecha em São Sebastião...

A clave rosa da manhã atinge um balão.
Maravimentirosa:
Dá pra pegar jacaré no arrastão.


Para comprar clique em Delírio CariocaPara saber mais sobre Guinga acesse: http://www.guinga.com/

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Sou nós

Salve, salve. Como todos sabem, aqui no Retropleco o tempo é realmente relativo, pelo menos para mim. A única regra é simples. Um texto meu e um texto do Aquino Man (G. Alvaro partiu, cronista ocupado, mas vale a leitura de seus blog’s clica nos link's depois e vê), se vai demorar, a gente não está nem aí. Man é mais técnico. Eu, mais sentimental.
Isso do tempo significa que mesmo com quase um ano, mais ou menos, de atraso falarei sobre o ótimo primeiro disco solo do compositor Marcelo Camelo (Los Hermanos, ou Los Hiato’s?). O ótimo encarará controvérsias, eu sei. Mas como o mais sentimental aqui sou eu, me permito a isso. E sei que existirão acompanhantes de mãos dadas comigo.
Na verdade, o pressuposto que utilizo aqui no Retrô... é o seguinte: o trabalho que resenho, que descrevo, tem que ser sentido. Ou seja, não tem que ter tocado apenas no meu cd player, tem que ter tocado no meu coração. Há tempos “Sou” toca nos dois. De fato, já na primeira audição, logo quando de seu lançamento em 2008, me senti mexido. Me recordo que a preta ainda morava num gostoso apartamento em Del Castilho, Zona Norte do Rio de Janeiro, cheguei do shopping, coloquei a bolachinha prateada e me deitei com uma taça de vinho – ela foi dormir. Com o tempo, olha de novo ele aí, as músicas foram tomando formas mais geométricas nas ruas do meu coração. Eu via Copacabana no carnaval na própria Copacabana do Marcelo, aliás, belíssima marchinha. Pensava em Liberdade nos momentos de solidão olhando a Avenida Adélia Franco do meu apartamento em Aracaju. Sentia o cheiro da Janta tomando vinho chileno ou italiano acompanhado de um sonho, olha o vinho aí de novo também. Sentia o cheiro das flores em Menina Bordada. Sorria com minha Doce Solidão. Ficava Passeando pelos sons da alma, aliás, tudo é Saudade.
Na minha última vinda para o Rio de Janeiro, estou aqui enquanto escrevo este texto, com um ventinho frio entrando pela janela, com uma chuvinha fina caindo, vim decidido a comprar alguns presentes de natal adiantado para meus amigos sergipanos, já que estaria aqui agora, e foi esse cd magistral que escolhi para presentear uma amiga minha muito querida, aliás, Pequeno gafanhoto – assim a chamo carinhosamente – esse texto vai para ti! Eu havia comentado sobre o trabalho para ela, a menina encontrou um clip amador da música Janta no Youtube e se amarrou. Mas, pasmem, em nenhuma loja da querida Aracaju é possível comprar esse trabalho do Camelo. Parêntesis, estava eu fuçando uma prateleira nas Lojas Americanas (lugar menos pior para comprar cd's em Sergipe!) quando uma adolescente perguntou sobre o trabalho solo do hermano para o vendedor: resposta negativa. Penso que muito provavelmente o interesse fosse pela participação, sincera e esforçada, diga-se de passagem, de Malu Magalhães na canção supracitada.
Prosseguindo, pois é seguindo que a gente anda em frente seja para sentir saudade ou não, quando cheguei para morar definitivamente em Aracaju, fui “dividir” apartamento com o “anjo mais velho” Kiko, na verdade, ele me emprestou um espaço da casa para eu ficar um tempo - obrigado eterno! Foram noites e noites chorando ouvindo esse cd, a ponto do meu amigo até se preocupar. A trilha sonora do choro ficou a cargo de James Taylor, pode rir, adoro James Taylor. Voltando ao disco em questão...
Arranjos bem elaborados, aquela sonoridade típica, tem tudo ali em Sou – Nós. Tem espaço para voz e violão. Espaço para tristeza, alegria contida, esperança. Piano. Ritmicamente também é rico, não me aprofundarei mais nesse quesito, pois estou utilizando a memória do coração aqui – o cd ficou em Aracaju.
Mas é isso. Sem muito a dizer, porém, muito mais a sentir. Eu sou nós! Obrigado Santa Chuva, eu já estava com saudades da tua inspiração – lindo céu cinza! Lindo céu cinza no meu Rio de Janeiro... pois depois de oito meses em Aracaju, eu aprendi a entender o que quis dizer o pintor francês Nicolas-Antoine Taunay sobre o céu de um irritável azul...

sábado, 5 de setembro de 2009

Cartilha para cariocas longe de casa: “Vitória da Ilusão” de Moacyr Luz

Carioca é bairrista, não há dúvidas quanto a isso. Da Zona Sul à Zona Norte. Da Baixada Fluminense à Região Serrana: o carioca é bairrista. Pode até, estando longe de casa, das praias, do Maracanã, do trem, da quadra de samba, do arrastão, das balas perdidas, dos morros e das mulatas, considerar bom o lugar em que vive, mesmo não sendo o seu amado Rio de Janeiro. Pode até achar boa a comida, bonita as mulheres, simpática as pessoas, mas, sem discussões, ele continua bairrista – não perde a identidade. Carioca que é carioca pode até perder o x do sotaque, mas quando liga para o Rio, quando volta ao estado, carrega na voz o chiado.
Lançado originalmente em 1995, numa tiragem mínima, Vitória da Ilusão, do carioquíssimo Moacyr Luz, talvez, um dos melhores sambistas vivos do Brasil, deveria, na minha opinião, ser chamado de “cartilha para cariocas longe de casa”. Relançado em 2006, pela Dabliú Discos (http://www.dabliudiscos.mpbnet.com.br/) este trabalho marca a excelente parceria com o ás da poesia/ crônica do cotidiano carioca, Aldir Blanc (nome que ao lado de João Bosco fez escola na música boa brasileira).
Por que “cartilha para cariocas longe de casa”? Simples! Por dois pontos: nesse disco há um equilíbrio enorme entre o tal bairrismo carioca a que me referi e as coisas do Brasil. Sim, isso mesmo! Aldir Blanc como letrista tem esse “quê a mais”: consegue equilibrar temas típicos do cotidiano do Rio de Janeiro com assuntos de interesse natural do país – veja Itajara, que abre o disco, com os impecáveis versos ácidos de Aldir Blanc: Todo mundo afana:/ Da gang do Escadinha ao seu bacana/ Só que a falange vermelha/ Ao menos governa em cana, que remetem ao famoso bandido carioca Escadinha, um dos fundadores da Falange Vermelha que viria mais tarde se transformar no Comando Vermelho (CV). No entanto, a letra toda remete à corrupção na política nacional. Afinal, o samba, como expressão musical e intelectual, não tem fronteiras.
Em segundo lugar, traz à tona uma pintura certeira do Rio de Janeiro, sem meias palavras, basta ouvir a belíssima Saudades da Guanabara – uma das mais belas letras de Aldir Blanc – que fecha o álbum e sacraliza o tal bairrismo com os versos: Brasil, tua cara ainda é o Rio de Janeiro/ Três por quatro da foto e o teu corpo inteiro. Ou mesmo a letra de Centro do coração. Todas pinturas do Rio de Janeiro. Bairrista isso? Claro! Mas perdoável, muito perdoável – já que desenhos!
Cartilha. Manual para todo carioca. Mapa do Rio para os visitantes, não pelo samba, pois não será ele quem te guiará pela Penha, Uruguaiana, 7 de Setembro e aí é que tá o trunfo e o talento de músico, compositor e interprete de Moacyr Luz: você será guiado pela musicalidade.
Recheado de vários ritmos, eu não ousaria dizer que Vitória da Ilusão podería ser chamado de um disco apenas de sambas, só porque seu interpréte e compositor é um grande sambista. É um trabalho de esmero artístico, melodias bem feitas, harmonias elaboradas, um samba aqui, um samba acolá, sem dúvidas, mas isso tudo não está só a serviço do bom e velho ritmo dos morros cariocas. Está a serviço da música.
Com participações de Beth Carvalho, Cristina Buarque e integrantes das Pastoras da Portela, o disco é uma bolacha – eita termo que me dá saudade – saborosa!
Destaco, aos cariocas de plantão em terras distantes as músicas: A já comentada Centro do coração, parceria de Moacyr Luz com Aldir Blanc e Vítor Martins; Só dói quando eu rio; Flores em vida (Pra Nelson Sargento); Mico preto e Paris: de Santos Dumont aos travestis, todas essas em parceria com Aldir Blanc. Claro, não deixe de ouvir e recitar feito oração a maravilhosa Saudades da Guanabara, parceria do sambista com Aldir Blanc e Paulo César Pinheiro que, inclusive, deixo para degustação em vídeo retirado do Youtube.
Na verdade, meus camaradas, listar os destaques aqui é pura perda de tempo, taí um trabalho impecável do início ao fim, fica agora a dúvida do motivo dele ser pouco executado nas rádios apesar de alguma das canções desse disco serem bem conhecidas nas vozes de inúmeros intérpretes, já que se trata de um apanhado de quase dez anos de parceria entre Moacyr e Aldir.
Moacyr Luz, fez nesse Vitória da Ilusão a vitória da boa melodia, da boa letra e da boa harmonia! Trouxe luz para a música brasileira e acredite, depois de ouvir, você verá que o que leu aqui, não era ilusão!

Para adquirir o cd e concordar comigo ou não: http://www.submarino.com.br/produto/2/1682156/cd+vitoria+da+ilusao

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Samba, misterioso samba!

Já disse certa vez, não sei de onde nem quando, que a música se manifesta em nós das maneiras mais surpreendentemente possíveis no dia a dia: por brincadeira, sentimento, arte, etc.
Minhas férias de infância, não só as minhas como as de Gustavo Alvaro, foram sempre passadas na Ilha de Paquetá. Lugar do Rio de Janeiro que guardo numa gaveta especial da minha memória. Caminhadas com meu primo, sozinhos, ainda moleques, pescarias na Ponte da Saudade, finais de tarde no Mirante... Tempos bons.
Samba para mim e, creio que também, para ele, é uma coisa que esteve sempre aqui na lembrança, num lugar desconhecido da memória. Criados no morro, impossível em algum momento da infância não termos ouvido Alcione – e me lembro que a “marrom” era muito ouvida pela minha tia, sua mãe –, Roberto Ribeiro, Agepê, Originais do Samba, Zeca Pagodinho, Dicró e me lembro bem da nossa avó paterna ouvir muito, mais muito mesmo, Benito di Paula. E assim crescemos, estudamos música, ora por brincadeira, ora sério, mas, vai lá, estudamos e estudamos ainda, seja como entusiastas ou falsários. Fico para mim com o falsário – a flauta transversa anda muda aqui no meu apartamento em Aracaju!
Mas vamos ao samba, ao misterioso samba!
Chegou quente dia desse aqui para mim, o excelente “O Samba Informal de Mauro Duarte”, cd duplo, lançado em 2008 pela gravadora Deckdisc. Conduzidas de maneira magistral pelo ótimo Samba de Fato e a cantora Cristina Buarque – que vi moleque e, também, adulto em vários sábados de roda de samba em Paquetá, naquele bar pertinho da Biblioteca Pública que fica no casarão Solar D’El Rei. O tempo longínquo não me ajuda com o nome do bar, que inclusive tomei muito picolé Kibon com meu tio Expedito e o próprio Gustavo.
São 30 sambas maravilhosos do grande Mauro Duarte, um dos grandes sambistas cariocas (nascido, na verdade, em Minas Gerais), cujas melodias impecáveis fizeram muito sucesso, por exemplo, na voz de Clara Nunes e ainda hoje embalam rodas de samba no Rio de Janeiro.
Falecido em 1989, Mauro Duarte, deixou um legado musical que merece destaque, tal que o disco gravado por Cristina Buarque e o pessoal do Samba de Fato (Pedro Miranda, Pedro Amorim, Alfredo Del-Penho e Paulino Dias) demonstra isso muito bem.
Da primeira faixa do cd 1 até a última do cd 2 o que se ouve é samba de qualidade, gravações perfeitas, equilibradas, ritmistas certeiros, cavaquinho e violões que exalam: samba! Meu Deus e que samba!
Projeto, no meu ponto de vista, audacioso, primeiro por se tratar de um cd duplo, o que, de certa forma, encarece o produto e em tempos de pirataria, preço alto assusta. Mas, vale cada centavo, meus caros! Vale pelo encarte bem feito, pelas letras impressas e ainda, o certeiro trabalho de explicar as composições de Mauro, o famoso Bolacha.
Em segundo lugar, a audácia está no minucioso trabalho de pesquisa. Na verdade, substituo audácia por talento.
O cd tem esse caráter que adoro de pesquisa musical, de resgate. São sambas do compositor (com parceiros) garimpados de cadernos de anotações, da memória de gente como Walter Alfaiate, Paulo Cesar Pinheiro, que inclusive finaliza várias letras que estavam incompletas. Enfim, um trabalho de História Oral maravilhoso!
A voz da sambista Cristina Buarque, sua ginga, dão um tempero bem dosado, os vocais do pessoal do Samba de Fato, ora solando, ora em coro e sempre tocando todos os instrumentos faz desse disco, para mim, algo indispensável na prateleira de qualquer amante do bom e sempre jovem velho samba!
A participação de Paulo César Pinheiro, não só assinando as letras das composições incompletas, como com a voz em duas canções (Sublime Primavera e Samba de Botequim) dá um toque a mais na bolacha prateada.
Ou seja, não dá para não ter, tem sim que meter a mão no bolso e comprar e não reclama muito não, pois no Rio de Janeiro, pelo menos, você poderá ouvir e depois correr para Lapa para tomar um bom chopp gelado. Esse aqui, pagou a mais por conta do frete e depois de ouvi-lo por volta da uma da madrugada não tinha nenhum bar aberto em Aracaju para me satisfazer a vontade! Então, parabéns!
Vou ficando por aqui e caso você queira saber mais sobre o trabalho, acesse www.deckdisc.com/mauroduarte. No encarte do cd há várias informações que você terá se adquirir o trabalho, pois esse daqui, não vai soltar por nada!

Abração

domingo, 9 de agosto de 2009

Redemoinho - Paulo Freire


Se tem um CD de viola que realmente me fascina e costuma não sair do meu tocador é o Redemoinho, do ano de 2007, do violeiro Paulo Freire. Dentre as toneladas de musica regional que ouço, ora por prazer, ora por dever de estudante de viola, esse disco do Paulo Freire realmente rasga a posição dos melhores, entre os concertistas de viola que tanto admiro.

Eu ganhei esse álbum de meu primo-irmão Bruno Alvaro, na ocasião do meu aniversário, deste mesmo ano corrente. Ainda no Rio, Bruno me perguntou se tinha algum álbum em especial que eu queria de aniversário. Redemoinho! Já andava namorando este disco na loja Arlequim da praça XV, aqui no centro, e o presente realmente é daqueles atemporais. O negócio é muito bom.

Por fim, nesta singela madrugada insone, catei o Redemoinho da estante e larguei a tocar. O disco já começa de uma forma fantástica. A primeira faixa, Fieira, acredito que minha favorita, sempre me faz lembrar Bruno, quando que, aos quarenta e três segundos de música, a viola cede espaço para a flauta transversa, a danada que pegou de jeito meu primo. Boas lembranças, em tempo de distâncias tão quilométricas. E vamos voltar pro disco. Depois que a flauta entra, a música fica de uma beleza incomparável, onde a violinha fantástica do Freire bate o chão muito bem e deixa bonito pra flauta. E ainda vai rolar um saxofone pra lá do meio do disco. É sério, vocês têm que ouvir.

E passa a faixa, entra a belíssima “Na tábua da beirada”, que começa com uma percussão que deixa o camarada numa expectativa que vale muito a pena porque, aos dezoito segundos de batucada, a viola do Freire entra com um violoncelo terrivelmente bem tocado, num arranjo grave que te joga no ar, e vai dialogando com a viola de uma forma original e bela. Uma música que não só te carrega, mas te absorve. E vamos tocando...

Passa a faixa, qual não é a surpresa do ouvinte quando o saxofone, de um toque doloroso e denso, toca no tímpano? Esta faixa, “Violice” traz a viola muito bem acompanhada do saxofone (olha ele aí!). De uma primazia incomparável. Cada faixa sozinha, já vale o dobro do valor do disco.

Mas tem mais, rapaziada. A gente ainda encontra mais surpresas durante, nas faixas em que a viola domina, como a bacaníssima “Gutão”, com um toque de viola carregado e bem ponteado. Coisa de gente boa mesmo. Coisa de Paulo Freire. E não se assuste com o turbilhão(redemoinho?) de sensações que provoca a faixa título, “Redemoinho”. Essa deixa a violinha e o violoncelo num transe que arrasta o ouvinte, vai por mim, vai por mim.

Por fim, pra não me alongar muito, não podia faltar a voz de Paulo Freire, pra fechar o disco, contando causo e tocando viola, na faixa derradeira “Tire-me daqui”. Chave de ouro, amigo, chave de ouro. E presta atenção que essa faixa vai falar contigo. E como diz o próprio Paulo Freire, vai ouvindo, vai ouvindo...

O amigo pode adquirir o cd através do site do violeiro: http://www.paulofreire.com.br/ . E é bom até pra conhecer mais sobre a vida e a obra desse camarada que tem um trabalho muito bonito, ao transportar a viola da mata pra sala de concerto, ainda sem descaracterizá-la, respeitando a violinha e a cultura que ela carrega. Vale a pena, vale a compra. Vai por mim.

Gustavo Alvaro.

domingo, 26 de julho de 2009

Pois não há tempo certo para o carnaval de rua

O título é dúbio, eu sei e nem esperem que eu me explique. Um tanto nostálgico, mas necessário, o texto de hoje chama atenção para o ótimo Cd lançado pelo Rancho Carnavalesco Flor do Sereno, que desde 2001 balança os foliões nos carnavais de rua do meu amado Rio de Janeiro.
Lançado em setembro de 2007, sendo assim, um tanto tardia essa crítica – daí o título dúbio da nossa chamada de hoje, aliás, tudo é dúbio aqui no Retropleco! – o Cd independente (com patrocínio do projeto Petrobrás Cultural e distribuição pela ótima Acari Records) leva o nome do rancho formado por músicos como Marcelo Bernardes, Bia Paes Leme, Elton Medeiros, Amélia Rabello, Andréia Ernest Dias e um monte de nome de gente que é figurinha fácil no dia a dia musical carioca e, também, brasileiro – Folheie um encarte de Cd do Chico Buarque, por exemplo, e você entenderá do que estou falando.
Até aí o descrente pode pensar: “Um bando de músico que regravou aquelas marchinhas que nossos avôs e avós dançavam quando na flor da idade, que nossos pais dançavam quando jovens e nós dançamos quando crianças!”. Ledo engano! Ledo Engano. E, cá pra nós, pela qualidade dos músicos, dos arranjadores, etc., até poderia ser sim um Cd de regravações de marchinhas, mas não é!

O trabalho é praticamente inédito, tendo, músicas escritas por gente como Cristóvão Bastos, Maurício Carrilho, Paulo César Pinheiro, Aldir Blanc, Jayme Vignoli, Luciana Rabello e Samuel Araújo. Ou seja, não pense que ficará ouvindo “Alá, lá ô, ô ô ô ô ô, mas que calor, ô ô ô ô ô...”. É coisa nova meu camarada!
Um projeto musical sólido, bem feito tanto nas letras, como no instrumental. Quarenta músicos de primeira, medalhões e gente da nova geração ocupando o mesmo espaço diplomático como é o do carnaval de rua do Rio de Janeiro.
São 14 músicas que resgatam o frescor das marchas-rancho, do samba, do choro e maxixe. Dá até vontade de pegar o bonde de Santa Teresa, parar na Rua do Lavradio, tomar um chope gelado com meu primo Gustavo!
Como eu disse antes, não há tempo certo para o carnaval de rua e mesmo sendo muito atrasada essa resenha musical, eu preciso gritar aqui parte da letra da música “Flor do Sereno”, não há tempo nem lugar, meus caros, não há, pro carnaval não: “Verde, azul e prata são as cores vivas neste carnaval/ Sopro de esperança pelas ruas, bar iluminado sob a lua/ Neste palco tão cheio de vida, somos loucos poetas e artistas/ Meu Rio de Janeiro és flor do sereno a desabrochar...”.
Como continua a letra, “é preciso sonhar o sonho boêmio...”. Atendam ao chamado, ouçam o Cd!
Abraços com direito a serpentinas!

Ps. Para aqueles que quiserem adquirir o Cd Rancho Flor do Sereno: (http://www.acari.com.br/)
Ps. do Ps. Maiores informações sobre o trabalho:
(http://www.joaninha.pro.br/projetos/rancho-flor-do-sereno)