domingo, 26 de julho de 2009

Pois não há tempo certo para o carnaval de rua

O título é dúbio, eu sei e nem esperem que eu me explique. Um tanto nostálgico, mas necessário, o texto de hoje chama atenção para o ótimo Cd lançado pelo Rancho Carnavalesco Flor do Sereno, que desde 2001 balança os foliões nos carnavais de rua do meu amado Rio de Janeiro.
Lançado em setembro de 2007, sendo assim, um tanto tardia essa crítica – daí o título dúbio da nossa chamada de hoje, aliás, tudo é dúbio aqui no Retropleco! – o Cd independente (com patrocínio do projeto Petrobrás Cultural e distribuição pela ótima Acari Records) leva o nome do rancho formado por músicos como Marcelo Bernardes, Bia Paes Leme, Elton Medeiros, Amélia Rabello, Andréia Ernest Dias e um monte de nome de gente que é figurinha fácil no dia a dia musical carioca e, também, brasileiro – Folheie um encarte de Cd do Chico Buarque, por exemplo, e você entenderá do que estou falando.
Até aí o descrente pode pensar: “Um bando de músico que regravou aquelas marchinhas que nossos avôs e avós dançavam quando na flor da idade, que nossos pais dançavam quando jovens e nós dançamos quando crianças!”. Ledo engano! Ledo Engano. E, cá pra nós, pela qualidade dos músicos, dos arranjadores, etc., até poderia ser sim um Cd de regravações de marchinhas, mas não é!

O trabalho é praticamente inédito, tendo, músicas escritas por gente como Cristóvão Bastos, Maurício Carrilho, Paulo César Pinheiro, Aldir Blanc, Jayme Vignoli, Luciana Rabello e Samuel Araújo. Ou seja, não pense que ficará ouvindo “Alá, lá ô, ô ô ô ô ô, mas que calor, ô ô ô ô ô...”. É coisa nova meu camarada!
Um projeto musical sólido, bem feito tanto nas letras, como no instrumental. Quarenta músicos de primeira, medalhões e gente da nova geração ocupando o mesmo espaço diplomático como é o do carnaval de rua do Rio de Janeiro.
São 14 músicas que resgatam o frescor das marchas-rancho, do samba, do choro e maxixe. Dá até vontade de pegar o bonde de Santa Teresa, parar na Rua do Lavradio, tomar um chope gelado com meu primo Gustavo!
Como eu disse antes, não há tempo certo para o carnaval de rua e mesmo sendo muito atrasada essa resenha musical, eu preciso gritar aqui parte da letra da música “Flor do Sereno”, não há tempo nem lugar, meus caros, não há, pro carnaval não: “Verde, azul e prata são as cores vivas neste carnaval/ Sopro de esperança pelas ruas, bar iluminado sob a lua/ Neste palco tão cheio de vida, somos loucos poetas e artistas/ Meu Rio de Janeiro és flor do sereno a desabrochar...”.
Como continua a letra, “é preciso sonhar o sonho boêmio...”. Atendam ao chamado, ouçam o Cd!
Abraços com direito a serpentinas!

Ps. Para aqueles que quiserem adquirir o Cd Rancho Flor do Sereno: (http://www.acari.com.br/)
Ps. do Ps. Maiores informações sobre o trabalho:
(http://www.joaninha.pro.br/projetos/rancho-flor-do-sereno)


segunda-feira, 13 de julho de 2009

Viola de Cocho


Sei que estou demorando a postar por aqui, julgo que tenhamos até mesmo alguns leitores. O Retropleco anda meio mal das rodas, metade do projeto está em Aracaju/SE, a outra metade sou eu, purgando a beleza e o caos. Mas a minha alma ainda canta.


Comprei minha viola de cocho. Digo “minha” viola, pois encomendei personalizadíssima, com nome gravado, essas coisas. Única. A viola de cocho é um instrumento lá das bandas mato-grossenses. Cordas de tripa ou linha de pesca, onde a gente da cidade encorda a viola com cordas de violão mesmo, funciona e responde bem. Apenas dois ou três trastos, o resto a gente vai tateando as notas, como no violino. Acontece que o mais interessante do instrumento é o fato da caixa acústica não ter alguma saída, ou seja, o tampo da viola não tem buraco nenhum, mesmo assim o som sai bonito que só. Como eu sempre tive parte com viola, achei razoável me comprar uma viola de cocho. E já que estamos falando em viola, confesso este fora sempre um instrumento mágico pra mim. Já andei tentando tocar de tudo nessa vida. Algumas coisas consegui de pronto, outras não tão pronto; algumas nunca. Mas sempre andei enamorado a instrumentos musicais.

Quando comecei a tocar viola, o pacto estava instaurado: todo mundo diz que a viola tem uma coisa de forte, que pega você, que não te larga, te domina, te obriga a pesquisar e aprender sobre as culturas onde já foi ponteada. Eu não sabia disso, peguei da viola por parte de meu pai, que gostava e dizia sempre que me queria tocador de viola e sanfona. A viola já me possui, quem sabe um dia sanfona?

Pois bem, que eu peguei na viola e na hora me saiu um ponteado. Chamei de Salamandra. Acho que pouca gente conhece esse meu toque de viola, pois logo depois deixei de lado a afinação rio-abaixo e caí no cebolão... mas se acaso vou rodando rio-abaixo, sempre me baixa a salamandra...
E é mágico mesmo, acredite. Não posso dizer que não acreditava, antes da viola, pois não sabia... quando soube, apenas constatei em mim o teor daquele negócio que me pegou e me transformou completamente... Dizem que é o demo, o cramulhão, pé redondo, o cão; outros dizem que é o santo, o santo mais interessante: São Gonçalo do Amarante...

Como sempre, pouco religioso e muito respeitoso, dei pra mim que, se fosse o demo, ou o santo, vou levando assim. Mas que a viola prende a gente, prende mesmo. Se tu duvida, pega da viola e larga os dedos por cima dela... que, ao passo que os toques vão nascendo em você, a viola vai tomando espaço...

E agora, vem a viola de cocho... vai da mesma forma, e vai carregando....