quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Sou nós

Salve, salve. Como todos sabem, aqui no Retropleco o tempo é realmente relativo, pelo menos para mim. A única regra é simples. Um texto meu e um texto do Aquino Man (G. Alvaro partiu, cronista ocupado, mas vale a leitura de seus blog’s clica nos link's depois e vê), se vai demorar, a gente não está nem aí. Man é mais técnico. Eu, mais sentimental.
Isso do tempo significa que mesmo com quase um ano, mais ou menos, de atraso falarei sobre o ótimo primeiro disco solo do compositor Marcelo Camelo (Los Hermanos, ou Los Hiato’s?). O ótimo encarará controvérsias, eu sei. Mas como o mais sentimental aqui sou eu, me permito a isso. E sei que existirão acompanhantes de mãos dadas comigo.
Na verdade, o pressuposto que utilizo aqui no Retrô... é o seguinte: o trabalho que resenho, que descrevo, tem que ser sentido. Ou seja, não tem que ter tocado apenas no meu cd player, tem que ter tocado no meu coração. Há tempos “Sou” toca nos dois. De fato, já na primeira audição, logo quando de seu lançamento em 2008, me senti mexido. Me recordo que a preta ainda morava num gostoso apartamento em Del Castilho, Zona Norte do Rio de Janeiro, cheguei do shopping, coloquei a bolachinha prateada e me deitei com uma taça de vinho – ela foi dormir. Com o tempo, olha de novo ele aí, as músicas foram tomando formas mais geométricas nas ruas do meu coração. Eu via Copacabana no carnaval na própria Copacabana do Marcelo, aliás, belíssima marchinha. Pensava em Liberdade nos momentos de solidão olhando a Avenida Adélia Franco do meu apartamento em Aracaju. Sentia o cheiro da Janta tomando vinho chileno ou italiano acompanhado de um sonho, olha o vinho aí de novo também. Sentia o cheiro das flores em Menina Bordada. Sorria com minha Doce Solidão. Ficava Passeando pelos sons da alma, aliás, tudo é Saudade.
Na minha última vinda para o Rio de Janeiro, estou aqui enquanto escrevo este texto, com um ventinho frio entrando pela janela, com uma chuvinha fina caindo, vim decidido a comprar alguns presentes de natal adiantado para meus amigos sergipanos, já que estaria aqui agora, e foi esse cd magistral que escolhi para presentear uma amiga minha muito querida, aliás, Pequeno gafanhoto – assim a chamo carinhosamente – esse texto vai para ti! Eu havia comentado sobre o trabalho para ela, a menina encontrou um clip amador da música Janta no Youtube e se amarrou. Mas, pasmem, em nenhuma loja da querida Aracaju é possível comprar esse trabalho do Camelo. Parêntesis, estava eu fuçando uma prateleira nas Lojas Americanas (lugar menos pior para comprar cd's em Sergipe!) quando uma adolescente perguntou sobre o trabalho solo do hermano para o vendedor: resposta negativa. Penso que muito provavelmente o interesse fosse pela participação, sincera e esforçada, diga-se de passagem, de Malu Magalhães na canção supracitada.
Prosseguindo, pois é seguindo que a gente anda em frente seja para sentir saudade ou não, quando cheguei para morar definitivamente em Aracaju, fui “dividir” apartamento com o “anjo mais velho” Kiko, na verdade, ele me emprestou um espaço da casa para eu ficar um tempo - obrigado eterno! Foram noites e noites chorando ouvindo esse cd, a ponto do meu amigo até se preocupar. A trilha sonora do choro ficou a cargo de James Taylor, pode rir, adoro James Taylor. Voltando ao disco em questão...
Arranjos bem elaborados, aquela sonoridade típica, tem tudo ali em Sou – Nós. Tem espaço para voz e violão. Espaço para tristeza, alegria contida, esperança. Piano. Ritmicamente também é rico, não me aprofundarei mais nesse quesito, pois estou utilizando a memória do coração aqui – o cd ficou em Aracaju.
Mas é isso. Sem muito a dizer, porém, muito mais a sentir. Eu sou nós! Obrigado Santa Chuva, eu já estava com saudades da tua inspiração – lindo céu cinza! Lindo céu cinza no meu Rio de Janeiro... pois depois de oito meses em Aracaju, eu aprendi a entender o que quis dizer o pintor francês Nicolas-Antoine Taunay sobre o céu de um irritável azul...

sábado, 24 de outubro de 2009

De amor, de mar e de uma caneca de café acompanhada de um disco de samba numa noite de sábado.


Conselheiro
(Batatinha/Paulo César Pinheiro)

Sou profissional do sofrimento
Professor do sentimento

Do amor fui artesão
Mestre do viver já fui chamado
Conselheiro do reinado

Cujo rei é o coração

Mestre do viver já fui chamado
Conselheiro do reinado

Cujo rei é o coração

Quebrei do peito a corrente

Que me prendia à tristeza
Dei nela um nó de serpente

Ela ficou sem defesa

Mas não fiquei mais contente

Nem ela menos acesa

Tristeza que prende a gente

Dói tanto quanto a que é presa

Abre meu peito por dentro

O amor entrou como um raio

Saí correndo do centro

Dentro do vento de maio


É assim, ao som da poesia de Batatinha e Paulo César Pinheiro que a brasiliense Ligiana abre seu disco de estréia, De Amor e de Mar [Tratore, 2009].

Já tinha passado pelo blog em que encontrei a indicação do disco da moça na quinta-feira, e fiquei curioso quando li sobre as participações de Hamilton de Hollanda no bandolim, de Tom Zé, e da produção do DJ Tudo; mas entre uma coisa e outra não baixei. Calhou de vir pegar isso hoje, numa parada que dei das minhas leituras medievalistas (tá me aterrorizando hein Bruno!) nas agonias de final de período da universidade, início de noite de sábado, eu aqui em casa sem um tostão no bolso pra sair e fazer alguma coisa, sou acompanhado pela caneca de café e pelas músicas que vou selecionando aqui.Tava com vontade de ouvir um samba, ae lembrei do disco da moça que tinha esquecido lá no blog, e baixei... A empolgação foi tamanha que senti a necessidade de posta-lo aqui, apenas 1 hora após ter ouvido.


A voz dela é linda, e o disco é de uma musicalidade perfeita! Samba fino, parece coisa de gente da velha guarda, com vários anos de experiência. Além dela, os dois três pontos que mais chamaram minha atenção: a produção refinada do grande Alfredo Bello (vulgo DJ Tudo), o bandolim mágico (órfão de Jacob) de Hamilton de Hollanda, e a seleção do repertório.

Ligiana é de Brasília, musicóloga graduada em canto lírico. Após se formar, foi para a Holanda, estudar canto barroco, de lá ela foi para a Itália, onde fez um mestrado em Filologia Musical, e começou a cantar MPB. Da Itália Ligiana seguiu para a França, onde continuou a cantar sambas e começou a compor."Queda por um samba", música presente no disco foi composta na França, por ela em parceria com seu pai, do outro lado do telefone.Continuou seus estudos escrevendo uma tese de doutorado sobre ópera barroca veneziana pelas Universidades de Tours e de Milão.Nos anos que passou em Paris ela montou o esboço desse primeiro disco, que foi gravado entre São Paulo, Paris e Brasília.

Mais informações no Myspace dela.


Ligiana - De Amor e de mar [2009]

01 Conselheiro
(Batatinha / Paulo César Pinheiro)
02 Consideração
(Cartola / Heitor dos Prazeres)
03 Se
(Tom Zé)
04 Só se não for brasileiro nessa hora (Morais Moreira/ Luis Galvão)
05 Onda
(Ligiana)
06 Canto do caboclo pedra preta
(Baden Powell/ Vinícius de Moraes)
07 Festa no olhar
(Philippe Baden Powell/ RodriGo Alzuguir)
08 Queda por um samba (Ligiana/Celso Araújo)
09 Chorando Baixinho (Abel Ferreira/Celso Araújo)
10 Pandeiro do Brasil
(Luiz Peixoto/José Maria de Abreu)
11 Eu quero é botar meu bloco na rua
(Sérgio Sampaio)

sábado, 5 de setembro de 2009

Cartilha para cariocas longe de casa: “Vitória da Ilusão” de Moacyr Luz

Carioca é bairrista, não há dúvidas quanto a isso. Da Zona Sul à Zona Norte. Da Baixada Fluminense à Região Serrana: o carioca é bairrista. Pode até, estando longe de casa, das praias, do Maracanã, do trem, da quadra de samba, do arrastão, das balas perdidas, dos morros e das mulatas, considerar bom o lugar em que vive, mesmo não sendo o seu amado Rio de Janeiro. Pode até achar boa a comida, bonita as mulheres, simpática as pessoas, mas, sem discussões, ele continua bairrista – não perde a identidade. Carioca que é carioca pode até perder o x do sotaque, mas quando liga para o Rio, quando volta ao estado, carrega na voz o chiado.
Lançado originalmente em 1995, numa tiragem mínima, Vitória da Ilusão, do carioquíssimo Moacyr Luz, talvez, um dos melhores sambistas vivos do Brasil, deveria, na minha opinião, ser chamado de “cartilha para cariocas longe de casa”. Relançado em 2006, pela Dabliú Discos (http://www.dabliudiscos.mpbnet.com.br/) este trabalho marca a excelente parceria com o ás da poesia/ crônica do cotidiano carioca, Aldir Blanc (nome que ao lado de João Bosco fez escola na música boa brasileira).
Por que “cartilha para cariocas longe de casa”? Simples! Por dois pontos: nesse disco há um equilíbrio enorme entre o tal bairrismo carioca a que me referi e as coisas do Brasil. Sim, isso mesmo! Aldir Blanc como letrista tem esse “quê a mais”: consegue equilibrar temas típicos do cotidiano do Rio de Janeiro com assuntos de interesse natural do país – veja Itajara, que abre o disco, com os impecáveis versos ácidos de Aldir Blanc: Todo mundo afana:/ Da gang do Escadinha ao seu bacana/ Só que a falange vermelha/ Ao menos governa em cana, que remetem ao famoso bandido carioca Escadinha, um dos fundadores da Falange Vermelha que viria mais tarde se transformar no Comando Vermelho (CV). No entanto, a letra toda remete à corrupção na política nacional. Afinal, o samba, como expressão musical e intelectual, não tem fronteiras.
Em segundo lugar, traz à tona uma pintura certeira do Rio de Janeiro, sem meias palavras, basta ouvir a belíssima Saudades da Guanabara – uma das mais belas letras de Aldir Blanc – que fecha o álbum e sacraliza o tal bairrismo com os versos: Brasil, tua cara ainda é o Rio de Janeiro/ Três por quatro da foto e o teu corpo inteiro. Ou mesmo a letra de Centro do coração. Todas pinturas do Rio de Janeiro. Bairrista isso? Claro! Mas perdoável, muito perdoável – já que desenhos!
Cartilha. Manual para todo carioca. Mapa do Rio para os visitantes, não pelo samba, pois não será ele quem te guiará pela Penha, Uruguaiana, 7 de Setembro e aí é que tá o trunfo e o talento de músico, compositor e interprete de Moacyr Luz: você será guiado pela musicalidade.
Recheado de vários ritmos, eu não ousaria dizer que Vitória da Ilusão podería ser chamado de um disco apenas de sambas, só porque seu interpréte e compositor é um grande sambista. É um trabalho de esmero artístico, melodias bem feitas, harmonias elaboradas, um samba aqui, um samba acolá, sem dúvidas, mas isso tudo não está só a serviço do bom e velho ritmo dos morros cariocas. Está a serviço da música.
Com participações de Beth Carvalho, Cristina Buarque e integrantes das Pastoras da Portela, o disco é uma bolacha – eita termo que me dá saudade – saborosa!
Destaco, aos cariocas de plantão em terras distantes as músicas: A já comentada Centro do coração, parceria de Moacyr Luz com Aldir Blanc e Vítor Martins; Só dói quando eu rio; Flores em vida (Pra Nelson Sargento); Mico preto e Paris: de Santos Dumont aos travestis, todas essas em parceria com Aldir Blanc. Claro, não deixe de ouvir e recitar feito oração a maravilhosa Saudades da Guanabara, parceria do sambista com Aldir Blanc e Paulo César Pinheiro que, inclusive, deixo para degustação em vídeo retirado do Youtube.
Na verdade, meus camaradas, listar os destaques aqui é pura perda de tempo, taí um trabalho impecável do início ao fim, fica agora a dúvida do motivo dele ser pouco executado nas rádios apesar de alguma das canções desse disco serem bem conhecidas nas vozes de inúmeros intérpretes, já que se trata de um apanhado de quase dez anos de parceria entre Moacyr e Aldir.
Moacyr Luz, fez nesse Vitória da Ilusão a vitória da boa melodia, da boa letra e da boa harmonia! Trouxe luz para a música brasileira e acredite, depois de ouvir, você verá que o que leu aqui, não era ilusão!

Para adquirir o cd e concordar comigo ou não: http://www.submarino.com.br/produto/2/1682156/cd+vitoria+da+ilusao

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Violas Cariocas!!!


Amigos, tudo bom?


Com prazer que declaro que fui convidado a escrever uma coluna sobre viola e música caipira no portal Cronicas Cariocas! Um site inteligente, sóbrio e com uma proposta cultural envolvente.

Já há uma semana eu abri uma coluna de crônicas por lá, voltada para meu trabalho humorístico e crítico, que você pode conferir aqui

Mas a novidade de hoje, voltada para nosso projeto, é a coluna de música regional! A coluna atende pelo nome de VIOLAS CARIOCAS!!!! Escrita pelo violeiro Gustavo Alvaro, que atende como eu.

gostaria que os amigos apreciassem a coluna. segue...

Violas Cariocas


Obrigado! E vamos tocando!!!

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Samba, misterioso samba!

Já disse certa vez, não sei de onde nem quando, que a música se manifesta em nós das maneiras mais surpreendentemente possíveis no dia a dia: por brincadeira, sentimento, arte, etc.
Minhas férias de infância, não só as minhas como as de Gustavo Alvaro, foram sempre passadas na Ilha de Paquetá. Lugar do Rio de Janeiro que guardo numa gaveta especial da minha memória. Caminhadas com meu primo, sozinhos, ainda moleques, pescarias na Ponte da Saudade, finais de tarde no Mirante... Tempos bons.
Samba para mim e, creio que também, para ele, é uma coisa que esteve sempre aqui na lembrança, num lugar desconhecido da memória. Criados no morro, impossível em algum momento da infância não termos ouvido Alcione – e me lembro que a “marrom” era muito ouvida pela minha tia, sua mãe –, Roberto Ribeiro, Agepê, Originais do Samba, Zeca Pagodinho, Dicró e me lembro bem da nossa avó paterna ouvir muito, mais muito mesmo, Benito di Paula. E assim crescemos, estudamos música, ora por brincadeira, ora sério, mas, vai lá, estudamos e estudamos ainda, seja como entusiastas ou falsários. Fico para mim com o falsário – a flauta transversa anda muda aqui no meu apartamento em Aracaju!
Mas vamos ao samba, ao misterioso samba!
Chegou quente dia desse aqui para mim, o excelente “O Samba Informal de Mauro Duarte”, cd duplo, lançado em 2008 pela gravadora Deckdisc. Conduzidas de maneira magistral pelo ótimo Samba de Fato e a cantora Cristina Buarque – que vi moleque e, também, adulto em vários sábados de roda de samba em Paquetá, naquele bar pertinho da Biblioteca Pública que fica no casarão Solar D’El Rei. O tempo longínquo não me ajuda com o nome do bar, que inclusive tomei muito picolé Kibon com meu tio Expedito e o próprio Gustavo.
São 30 sambas maravilhosos do grande Mauro Duarte, um dos grandes sambistas cariocas (nascido, na verdade, em Minas Gerais), cujas melodias impecáveis fizeram muito sucesso, por exemplo, na voz de Clara Nunes e ainda hoje embalam rodas de samba no Rio de Janeiro.
Falecido em 1989, Mauro Duarte, deixou um legado musical que merece destaque, tal que o disco gravado por Cristina Buarque e o pessoal do Samba de Fato (Pedro Miranda, Pedro Amorim, Alfredo Del-Penho e Paulino Dias) demonstra isso muito bem.
Da primeira faixa do cd 1 até a última do cd 2 o que se ouve é samba de qualidade, gravações perfeitas, equilibradas, ritmistas certeiros, cavaquinho e violões que exalam: samba! Meu Deus e que samba!
Projeto, no meu ponto de vista, audacioso, primeiro por se tratar de um cd duplo, o que, de certa forma, encarece o produto e em tempos de pirataria, preço alto assusta. Mas, vale cada centavo, meus caros! Vale pelo encarte bem feito, pelas letras impressas e ainda, o certeiro trabalho de explicar as composições de Mauro, o famoso Bolacha.
Em segundo lugar, a audácia está no minucioso trabalho de pesquisa. Na verdade, substituo audácia por talento.
O cd tem esse caráter que adoro de pesquisa musical, de resgate. São sambas do compositor (com parceiros) garimpados de cadernos de anotações, da memória de gente como Walter Alfaiate, Paulo Cesar Pinheiro, que inclusive finaliza várias letras que estavam incompletas. Enfim, um trabalho de História Oral maravilhoso!
A voz da sambista Cristina Buarque, sua ginga, dão um tempero bem dosado, os vocais do pessoal do Samba de Fato, ora solando, ora em coro e sempre tocando todos os instrumentos faz desse disco, para mim, algo indispensável na prateleira de qualquer amante do bom e sempre jovem velho samba!
A participação de Paulo César Pinheiro, não só assinando as letras das composições incompletas, como com a voz em duas canções (Sublime Primavera e Samba de Botequim) dá um toque a mais na bolacha prateada.
Ou seja, não dá para não ter, tem sim que meter a mão no bolso e comprar e não reclama muito não, pois no Rio de Janeiro, pelo menos, você poderá ouvir e depois correr para Lapa para tomar um bom chopp gelado. Esse aqui, pagou a mais por conta do frete e depois de ouvi-lo por volta da uma da madrugada não tinha nenhum bar aberto em Aracaju para me satisfazer a vontade! Então, parabéns!
Vou ficando por aqui e caso você queira saber mais sobre o trabalho, acesse www.deckdisc.com/mauroduarte. No encarte do cd há várias informações que você terá se adquirir o trabalho, pois esse daqui, não vai soltar por nada!

Abração

domingo, 9 de agosto de 2009

Redemoinho - Paulo Freire


Se tem um CD de viola que realmente me fascina e costuma não sair do meu tocador é o Redemoinho, do ano de 2007, do violeiro Paulo Freire. Dentre as toneladas de musica regional que ouço, ora por prazer, ora por dever de estudante de viola, esse disco do Paulo Freire realmente rasga a posição dos melhores, entre os concertistas de viola que tanto admiro.

Eu ganhei esse álbum de meu primo-irmão Bruno Alvaro, na ocasião do meu aniversário, deste mesmo ano corrente. Ainda no Rio, Bruno me perguntou se tinha algum álbum em especial que eu queria de aniversário. Redemoinho! Já andava namorando este disco na loja Arlequim da praça XV, aqui no centro, e o presente realmente é daqueles atemporais. O negócio é muito bom.

Por fim, nesta singela madrugada insone, catei o Redemoinho da estante e larguei a tocar. O disco já começa de uma forma fantástica. A primeira faixa, Fieira, acredito que minha favorita, sempre me faz lembrar Bruno, quando que, aos quarenta e três segundos de música, a viola cede espaço para a flauta transversa, a danada que pegou de jeito meu primo. Boas lembranças, em tempo de distâncias tão quilométricas. E vamos voltar pro disco. Depois que a flauta entra, a música fica de uma beleza incomparável, onde a violinha fantástica do Freire bate o chão muito bem e deixa bonito pra flauta. E ainda vai rolar um saxofone pra lá do meio do disco. É sério, vocês têm que ouvir.

E passa a faixa, entra a belíssima “Na tábua da beirada”, que começa com uma percussão que deixa o camarada numa expectativa que vale muito a pena porque, aos dezoito segundos de batucada, a viola do Freire entra com um violoncelo terrivelmente bem tocado, num arranjo grave que te joga no ar, e vai dialogando com a viola de uma forma original e bela. Uma música que não só te carrega, mas te absorve. E vamos tocando...

Passa a faixa, qual não é a surpresa do ouvinte quando o saxofone, de um toque doloroso e denso, toca no tímpano? Esta faixa, “Violice” traz a viola muito bem acompanhada do saxofone (olha ele aí!). De uma primazia incomparável. Cada faixa sozinha, já vale o dobro do valor do disco.

Mas tem mais, rapaziada. A gente ainda encontra mais surpresas durante, nas faixas em que a viola domina, como a bacaníssima “Gutão”, com um toque de viola carregado e bem ponteado. Coisa de gente boa mesmo. Coisa de Paulo Freire. E não se assuste com o turbilhão(redemoinho?) de sensações que provoca a faixa título, “Redemoinho”. Essa deixa a violinha e o violoncelo num transe que arrasta o ouvinte, vai por mim, vai por mim.

Por fim, pra não me alongar muito, não podia faltar a voz de Paulo Freire, pra fechar o disco, contando causo e tocando viola, na faixa derradeira “Tire-me daqui”. Chave de ouro, amigo, chave de ouro. E presta atenção que essa faixa vai falar contigo. E como diz o próprio Paulo Freire, vai ouvindo, vai ouvindo...

O amigo pode adquirir o cd através do site do violeiro: http://www.paulofreire.com.br/ . E é bom até pra conhecer mais sobre a vida e a obra desse camarada que tem um trabalho muito bonito, ao transportar a viola da mata pra sala de concerto, ainda sem descaracterizá-la, respeitando a violinha e a cultura que ela carrega. Vale a pena, vale a compra. Vai por mim.

Gustavo Alvaro.

domingo, 26 de julho de 2009

Pois não há tempo certo para o carnaval de rua

O título é dúbio, eu sei e nem esperem que eu me explique. Um tanto nostálgico, mas necessário, o texto de hoje chama atenção para o ótimo Cd lançado pelo Rancho Carnavalesco Flor do Sereno, que desde 2001 balança os foliões nos carnavais de rua do meu amado Rio de Janeiro.
Lançado em setembro de 2007, sendo assim, um tanto tardia essa crítica – daí o título dúbio da nossa chamada de hoje, aliás, tudo é dúbio aqui no Retropleco! – o Cd independente (com patrocínio do projeto Petrobrás Cultural e distribuição pela ótima Acari Records) leva o nome do rancho formado por músicos como Marcelo Bernardes, Bia Paes Leme, Elton Medeiros, Amélia Rabello, Andréia Ernest Dias e um monte de nome de gente que é figurinha fácil no dia a dia musical carioca e, também, brasileiro – Folheie um encarte de Cd do Chico Buarque, por exemplo, e você entenderá do que estou falando.
Até aí o descrente pode pensar: “Um bando de músico que regravou aquelas marchinhas que nossos avôs e avós dançavam quando na flor da idade, que nossos pais dançavam quando jovens e nós dançamos quando crianças!”. Ledo engano! Ledo Engano. E, cá pra nós, pela qualidade dos músicos, dos arranjadores, etc., até poderia ser sim um Cd de regravações de marchinhas, mas não é!

O trabalho é praticamente inédito, tendo, músicas escritas por gente como Cristóvão Bastos, Maurício Carrilho, Paulo César Pinheiro, Aldir Blanc, Jayme Vignoli, Luciana Rabello e Samuel Araújo. Ou seja, não pense que ficará ouvindo “Alá, lá ô, ô ô ô ô ô, mas que calor, ô ô ô ô ô...”. É coisa nova meu camarada!
Um projeto musical sólido, bem feito tanto nas letras, como no instrumental. Quarenta músicos de primeira, medalhões e gente da nova geração ocupando o mesmo espaço diplomático como é o do carnaval de rua do Rio de Janeiro.
São 14 músicas que resgatam o frescor das marchas-rancho, do samba, do choro e maxixe. Dá até vontade de pegar o bonde de Santa Teresa, parar na Rua do Lavradio, tomar um chope gelado com meu primo Gustavo!
Como eu disse antes, não há tempo certo para o carnaval de rua e mesmo sendo muito atrasada essa resenha musical, eu preciso gritar aqui parte da letra da música “Flor do Sereno”, não há tempo nem lugar, meus caros, não há, pro carnaval não: “Verde, azul e prata são as cores vivas neste carnaval/ Sopro de esperança pelas ruas, bar iluminado sob a lua/ Neste palco tão cheio de vida, somos loucos poetas e artistas/ Meu Rio de Janeiro és flor do sereno a desabrochar...”.
Como continua a letra, “é preciso sonhar o sonho boêmio...”. Atendam ao chamado, ouçam o Cd!
Abraços com direito a serpentinas!

Ps. Para aqueles que quiserem adquirir o Cd Rancho Flor do Sereno: (http://www.acari.com.br/)
Ps. do Ps. Maiores informações sobre o trabalho:
(http://www.joaninha.pro.br/projetos/rancho-flor-do-sereno)


segunda-feira, 13 de julho de 2009

Viola de Cocho


Sei que estou demorando a postar por aqui, julgo que tenhamos até mesmo alguns leitores. O Retropleco anda meio mal das rodas, metade do projeto está em Aracaju/SE, a outra metade sou eu, purgando a beleza e o caos. Mas a minha alma ainda canta.


Comprei minha viola de cocho. Digo “minha” viola, pois encomendei personalizadíssima, com nome gravado, essas coisas. Única. A viola de cocho é um instrumento lá das bandas mato-grossenses. Cordas de tripa ou linha de pesca, onde a gente da cidade encorda a viola com cordas de violão mesmo, funciona e responde bem. Apenas dois ou três trastos, o resto a gente vai tateando as notas, como no violino. Acontece que o mais interessante do instrumento é o fato da caixa acústica não ter alguma saída, ou seja, o tampo da viola não tem buraco nenhum, mesmo assim o som sai bonito que só. Como eu sempre tive parte com viola, achei razoável me comprar uma viola de cocho. E já que estamos falando em viola, confesso este fora sempre um instrumento mágico pra mim. Já andei tentando tocar de tudo nessa vida. Algumas coisas consegui de pronto, outras não tão pronto; algumas nunca. Mas sempre andei enamorado a instrumentos musicais.

Quando comecei a tocar viola, o pacto estava instaurado: todo mundo diz que a viola tem uma coisa de forte, que pega você, que não te larga, te domina, te obriga a pesquisar e aprender sobre as culturas onde já foi ponteada. Eu não sabia disso, peguei da viola por parte de meu pai, que gostava e dizia sempre que me queria tocador de viola e sanfona. A viola já me possui, quem sabe um dia sanfona?

Pois bem, que eu peguei na viola e na hora me saiu um ponteado. Chamei de Salamandra. Acho que pouca gente conhece esse meu toque de viola, pois logo depois deixei de lado a afinação rio-abaixo e caí no cebolão... mas se acaso vou rodando rio-abaixo, sempre me baixa a salamandra...
E é mágico mesmo, acredite. Não posso dizer que não acreditava, antes da viola, pois não sabia... quando soube, apenas constatei em mim o teor daquele negócio que me pegou e me transformou completamente... Dizem que é o demo, o cramulhão, pé redondo, o cão; outros dizem que é o santo, o santo mais interessante: São Gonçalo do Amarante...

Como sempre, pouco religioso e muito respeitoso, dei pra mim que, se fosse o demo, ou o santo, vou levando assim. Mas que a viola prende a gente, prende mesmo. Se tu duvida, pega da viola e larga os dedos por cima dela... que, ao passo que os toques vão nascendo em você, a viola vai tomando espaço...

E agora, vem a viola de cocho... vai da mesma forma, e vai carregando....

sábado, 24 de janeiro de 2009

A que se destina o projeto Retropleco

Em 30 de abril de 2005 foi composta a canção La Vie Est Ainsi por Bruno Alvaro que logo se tornou “sucesso” entre os alunos de sua turma de francês. Na primeira vez que a canção foi cantada e tocada em público estava ao violão Gustavo Alvaro, seu primo, no pandeiro Kátia Teonia e no tamborim Rodrigo Otávio. Durante muito tempo a canção embalou as brincadeiras do grupo e ainda hoje é lembrada. Ali aparecia o primeiro esboço de formar não uma banda ou um grupo, porém um projeto de pesquisa musical, tentando unir, fundir sem preconceitos diversas culturas, gêneros, ritmos e sons musicais. La Vie Est Ainsi é um samba-canção cuja letra está em francês.
Entretanto, o Retropleco não tem suas raízes, propriamente ditas, na arte musical, mas, sim, na Literatura, tema este, carissimo aos dois fundadores do projeto.
Em 2004, Bruno Alvaro dá inicio a produção de seu primeiro romance, ainda hoje inacabado, Vitrines, que narra a história de um personagem sem nome em um processo de caminhada abstrata por uma cidade que é o Rio de Janeiro imaginado pelo autor.
No capítulo dois surge um bar de jazz cujo nome atualmente sagra-se como o do projeto, nesse mesmo capítulo encontra-se uma homenagem a Gustavo Alvaro. Por motivos muitos o romance estacionou no capítulo sete e nunca mais foi retomado por Bruno Alvaro.
Pensando a palavra Retropleco ser sonora e tendo sido inspirado numa interessante junção do nome de um grande compositor, Bruno Alvaro convida seu primo-irmão, Kátia e Rodrigo a formarem o Retropleco como um projeto de música, Gustavo aceita, mas os dois outros amigos nem chegam a abraçar a idéia e seguem seus rumos profissionais, porém a amizade continua até hoje.
Já em 2005, Bruno Alvaro musica o poema Trincheiras escrito por Gustavo Alvaro, dando inicio a uma parceria frutifera e bem talhada.
O projeto acaba estacionado por todo o ano de 2006. Contudo, nos meses finais de 2007, Bruno e Gustavo Alvaro retomam o caminho já estelecendo a linha musical ampla a ser seguida e a multiplicidade de instrumentos a serem utilizados. Surgem, então, composições com flauta transversa e violão, samples e didgeridoo, música eletrônica, viola caipira e violão, cavaquinho e percussão, etc.
Em 2008, os dois músicos passaram a se dedicar mais a Literatura apresentando-se no sarau mensal do Castelinho do Flamengo, na praia do Flamengo. Gustavo Alvaro iniciou uma empreitada como ator e Bruno Alvaro passou a declamar sua prosa poética.
Influenciados pelos ventos artisticos, os primos decidiram levar mais a sério o projeto e desengavetá-lo de vez, compondo em 2008 algumas canções e retomando outras como a moda Buchada de Bode, composta em 2004 por Bruno Alvaro em homenagem a amiga Kátia Teonia e retomada em 2009 por Gustavo Alvaro com um arranjo de viola caipira e violão.
Em dezembro de 2008 é composta a canção Décimo Dia do Mês por Bruno Alvaro e gravada e, ainda, as modas de viola caipira Paraná de Gustavo Alvaro e apresentada em público no sarau de novembro de 2008 no Castelinho do Flamengo.
Juntos, os dois músicos passam a trabalhar mais arduamente na moda de viola caipira Sem Título, composta por Gustavo Alvaro, cujo arranjo para violão de seis cordas foi feito por Bruno Alvaro, a gravação piloto foi feita e aguarda retoques.
Em janeiro de 2009 foi criado uma página do Retropleco no MySpace e uma conta de e-mail no Hotmail, o blog já havia sido escrito, entretanto, as propostas de textos que aqui seriam publicados estavam em discussão no fim do ano de 2008, sendo decidido que seriam discutidos livros, instrumentos e trabalhos de artistas que norteiam a música composta por Bruno e Gustavo Alvaro.
No geral, a proposta é exatamente a apresentada no texto inicial do blog: “um projeto de pesquisa musical experimental de múltiplas influências”.
Logo, logo, serão colocadas algumas músicas no MySpace: Aguardem!

Sejam bem-vindos

Equipe Retropleco
(http://www.myspace.com/retropleco)

Retropleco é:
Bruno Alvaro: Composições e arranjos; flauta transversa e doce; violão; guitarra; contrabaixo; percussão; samples; teclado; gaita, etc.
Gustavo Alvaro: Composições e arranjos; viola caipira; violão; didgeridoo; violino; contrabaixo; gaita; teclado; cavaquinho, etc.