Sei que estou demorando a postar por aqui, julgo que tenhamos até mesmo alguns leitores. O Retropleco anda meio mal das rodas, metade do projeto está em Aracaju/SE, a outra metade sou eu, purgando a beleza e o caos. Mas a minha alma ainda canta.
Comprei minha viola de cocho. Digo “minha” viola, pois encomendei personalizadíssima, com nome gravado, essas coisas. Única. A viola de cocho é um instrumento lá das bandas mato-grossenses. Cordas de tripa ou linha de pesca, onde a gente da cidade encorda a viola com cordas de violão mesmo, funciona e responde bem. Apenas dois ou três trastos, o resto a gente vai tateando as notas, como no violino. Acontece que o mais interessante do instrumento é o fato da caixa acústica não ter alguma saída, ou seja, o tampo da viola não tem buraco nenhum, mesmo assim o som sai bonito que só. Como eu sempre tive parte com viola, achei razoável me comprar uma viola de cocho. E já que estamos falando em viola, confesso este fora sempre um instrumento mágico pra mim. Já andei tentando tocar de tudo nessa vida. Algumas coisas consegui de pronto, outras não tão pronto; algumas nunca. Mas sempre andei enamorado a instrumentos musicais.
Quando comecei a tocar viola, o pacto estava instaurado: todo mundo diz que a viola tem uma coisa de forte, que pega você, que não te larga, te domina, te obriga a pesquisar e aprender sobre as culturas onde já foi ponteada. Eu não sabia disso, peguei da viola por parte de meu pai, que gostava e dizia sempre que me queria tocador de viola e sanfona. A viola já me possui, quem sabe um dia sanfona?
Pois bem, que eu peguei na viola e na hora me saiu um ponteado. Chamei de Salamandra. Acho que pouca gente conhece esse meu toque de viola, pois logo depois deixei de lado a afinação rio-abaixo e caí no cebolão... mas se acaso vou rodando rio-abaixo, sempre me baixa a salamandra...
E é mágico mesmo, acredite. Não posso dizer que não acreditava, antes da viola, pois não sabia... quando soube, apenas constatei em mim o teor daquele negócio que me pegou e me transformou completamente... Dizem que é o demo, o cramulhão, pé redondo, o cão; outros dizem que é o santo, o santo mais interessante: São Gonçalo do Amarante...
Como sempre, pouco religioso e muito respeitoso, dei pra mim que, se fosse o demo, ou o santo, vou levando assim. Mas que a viola prende a gente, prende mesmo. Se tu duvida, pega da viola e larga os dedos por cima dela... que, ao passo que os toques vão nascendo em você, a viola vai tomando espaço...
E agora, vem a viola de cocho... vai da mesma forma, e vai carregando....
Um comentário:
Cuidado com o tinhoso e aquele que matou o guarrrrda. :P
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