quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Sou nós

Salve, salve. Como todos sabem, aqui no Retropleco o tempo é realmente relativo, pelo menos para mim. A única regra é simples. Um texto meu e um texto do Aquino Man (G. Alvaro partiu, cronista ocupado, mas vale a leitura de seus blog’s clica nos link's depois e vê), se vai demorar, a gente não está nem aí. Man é mais técnico. Eu, mais sentimental.
Isso do tempo significa que mesmo com quase um ano, mais ou menos, de atraso falarei sobre o ótimo primeiro disco solo do compositor Marcelo Camelo (Los Hermanos, ou Los Hiato’s?). O ótimo encarará controvérsias, eu sei. Mas como o mais sentimental aqui sou eu, me permito a isso. E sei que existirão acompanhantes de mãos dadas comigo.
Na verdade, o pressuposto que utilizo aqui no Retrô... é o seguinte: o trabalho que resenho, que descrevo, tem que ser sentido. Ou seja, não tem que ter tocado apenas no meu cd player, tem que ter tocado no meu coração. Há tempos “Sou” toca nos dois. De fato, já na primeira audição, logo quando de seu lançamento em 2008, me senti mexido. Me recordo que a preta ainda morava num gostoso apartamento em Del Castilho, Zona Norte do Rio de Janeiro, cheguei do shopping, coloquei a bolachinha prateada e me deitei com uma taça de vinho – ela foi dormir. Com o tempo, olha de novo ele aí, as músicas foram tomando formas mais geométricas nas ruas do meu coração. Eu via Copacabana no carnaval na própria Copacabana do Marcelo, aliás, belíssima marchinha. Pensava em Liberdade nos momentos de solidão olhando a Avenida Adélia Franco do meu apartamento em Aracaju. Sentia o cheiro da Janta tomando vinho chileno ou italiano acompanhado de um sonho, olha o vinho aí de novo também. Sentia o cheiro das flores em Menina Bordada. Sorria com minha Doce Solidão. Ficava Passeando pelos sons da alma, aliás, tudo é Saudade.
Na minha última vinda para o Rio de Janeiro, estou aqui enquanto escrevo este texto, com um ventinho frio entrando pela janela, com uma chuvinha fina caindo, vim decidido a comprar alguns presentes de natal adiantado para meus amigos sergipanos, já que estaria aqui agora, e foi esse cd magistral que escolhi para presentear uma amiga minha muito querida, aliás, Pequeno gafanhoto – assim a chamo carinhosamente – esse texto vai para ti! Eu havia comentado sobre o trabalho para ela, a menina encontrou um clip amador da música Janta no Youtube e se amarrou. Mas, pasmem, em nenhuma loja da querida Aracaju é possível comprar esse trabalho do Camelo. Parêntesis, estava eu fuçando uma prateleira nas Lojas Americanas (lugar menos pior para comprar cd's em Sergipe!) quando uma adolescente perguntou sobre o trabalho solo do hermano para o vendedor: resposta negativa. Penso que muito provavelmente o interesse fosse pela participação, sincera e esforçada, diga-se de passagem, de Malu Magalhães na canção supracitada.
Prosseguindo, pois é seguindo que a gente anda em frente seja para sentir saudade ou não, quando cheguei para morar definitivamente em Aracaju, fui “dividir” apartamento com o “anjo mais velho” Kiko, na verdade, ele me emprestou um espaço da casa para eu ficar um tempo - obrigado eterno! Foram noites e noites chorando ouvindo esse cd, a ponto do meu amigo até se preocupar. A trilha sonora do choro ficou a cargo de James Taylor, pode rir, adoro James Taylor. Voltando ao disco em questão...
Arranjos bem elaborados, aquela sonoridade típica, tem tudo ali em Sou – Nós. Tem espaço para voz e violão. Espaço para tristeza, alegria contida, esperança. Piano. Ritmicamente também é rico, não me aprofundarei mais nesse quesito, pois estou utilizando a memória do coração aqui – o cd ficou em Aracaju.
Mas é isso. Sem muito a dizer, porém, muito mais a sentir. Eu sou nós! Obrigado Santa Chuva, eu já estava com saudades da tua inspiração – lindo céu cinza! Lindo céu cinza no meu Rio de Janeiro... pois depois de oito meses em Aracaju, eu aprendi a entender o que quis dizer o pintor francês Nicolas-Antoine Taunay sobre o céu de um irritável azul...

Nenhum comentário: