domingo, 7 de fevereiro de 2010

“Macunaíma também anda de pedalinho”: Delírio Carioca – Guinga



Produzido por Zé Nogueira e gravado entre janeiro e fevereiro de 1993, Delírio Carioca (Velas, 1993), segundo disco de carreira do dentista-violonista, compositor e há algum tempo cantor, Carlos Althier de Souza Lemos Escobar, conhecido mundialmente, simplesmente, como Guinga, tem uma pá de coisa que me impressiona: melodias e harmonias que não beiram à perfeição, são ela manifestada e eternizada em sons; ritmos diversos que são indefiníveis para um pobre ouvinte como eu e, por fim, as fortes letras de Aldir Blanc, esse cronista carioca que utiliza as palavras como um turbilhão de imagens que de tão cariocas-suburbanas se tornam universais. Ainda há espaço, mesmo que em uno para a impecável letra (Saci, segunda faixa do disco) de Paulo César Pinheiro, outro ás da poesia musical brasileira e parceiro de grandes nomes da música do nosso país.
Como de sempre, fico com os clássicos enquanto meu amigo Aquino Man se encarrega do que há de novo pelos arados musicais do nosso mundo. A escolha de Delírio Carioca não foi à toa, depois de duas semanas de volta a Aracaju, dessa vez acompanhado da esposa e companheira de luta e labuta, esse tem sido o som que mais tenho ouvido no player. Por coincidência da vida, recebo um e-mail do meu querido Gustavo Alvaro me informando que havia comprado um songbook do Guinga por uma bagatela numa feira de livros no Centro do Rio. Ficamos então no bate-pronto.
Comentei com ele sobre esse esplendoroso trabalho e enumerei as músicas que para mim se destacavam. Quando terminei, percebei que todas as 15 canções eram fenomenais. O primeiro disco de Guinga, assinado em parceria com Blanc, Simples e absurdo, já era um absurdo de bom, porém, nesse novo trabalho, continuando com as ótimas participações musicais, assim como ocorreu no primeiro, dessa vez: repetindo a dose, Fátima Guedes (cantando Passarinhadeira), Djavan (cantando de forma primorosa, a faixa que dá nome ao trabalho), Lucia Helena (divina em Choro pro Zé), Leila Pinheiro (em Baião de Lacan) e Boca Livre (entoando Visão de Cego), Guinga vai além e continuou indo até o recente Saudades do Cordão (Biscoito Fino, 2009).
As belas canções Canção do Lobsomem e Catavento e Girassol, as duas em parceria com Aldir Blanc e cantadas por Guinga, merecem reverência eterna, não só pela complexidade das melodias, mas, também, pelo casamento perfeito com as letras do Aldir. Versos marcantes!
Acredito que para todo aspirante a “tocador” de violão, Delíro Carioca é um divisor de água. Guinga deveria virar nome de praça em Madureira, onde nasceu. Guinga deveria virar nome de método de composição (que saudade do Chediak!). Enquanto caminho pelo calçadão da 13 de julho em Aracaju, vendo o vai e vem dos carros e das pessoas, que saudade que aperta do Rio de Janeiro e me imagino ouvindo os acordes do violão do Guinga sendo entoados no Teatro Rival ao lado do Zé Rentato, do Jardes e do Moacyr Luz... um deliro! Carioca, um delírio!

Delírio Carioca(Guinga - Aldir Blanc)

No Rio: mar.
Ouço Netuno assoviar
um Gershwin Clara Nunes
qua faz vibrar feito flauta
os túneis.

Um cisco no olho azul da Lagoa:
sozinho,
Macunaíma anda de pedalinho.

No Rio-Festa,
Porgy and Bess
tapeiam mais um turista argentino
e o chope é fino no azul cristalino.

E vem num avião um Jobim azulão
e a chuva é flecha em São Sebastião...

A clave rosa da manhã atinge um balão.
Maravimentirosa:
Dá pra pegar jacaré no arrastão.


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3 comentários:

G. Alvaro disse...

Olha que é torturador,
não é nada pessoal.
Se convocado outra vez
Volta e me mete o pau

Uai!!!

Par ou ímpar - Guinga

minha favorita desse álbum.

Bruno Alvaro disse...

Velho, fantástico não?

G. Alvaro disse...

Contar pra vocês, do torturador que tem soco inglês, mudar não mudou...

Cara, saudade de você!


Sergipe!