Eu sei, há tempos não apareço por aqui. Vida atarefada. Mas esse texto tem um gosto especial – vai além da tinta e do papel. Estou no Rio de Janeiro, aliás, estou por aqui já faz pouco mais de um mês. Merecidas férias. Nessas férias, nessas andanças e visitas ao bom e velho Centro comprei um dos meus mais queridos Cds e que tenho ouvido constantemente.
Pode ser um paradoxo escrever sobre esse belo trabalho, lançado pela Biscoito Fino em 2010, intitulado, bem precisamente de, Lembranças Cariocas, justamente estando no Rio de Janeiro...
Tendo à frente da direção musical e roteiro Lefê de Almeida, Lembranças Cariocas é um desses verdadeiros minuciosos trabalhos de história da música carioca (ou produzida no Rio de Janeiro há um pouco mais de 50 anos) e antes que alguém me acuse de estar sendo bairrista, este trabalho vai muito além das canções tipicamente cariocas como Copacapana (Braguinha e Alberto Ribeiro), Na Subida do Morro (Moreira da Silva e Ribeiro Cunha) ou as impecáveis e super conhecidas composições de Bidê e Marçal (A Primeira Vez, Madalena foi ao Samba, Nunca Mais, Barão das Cabrochas, Velho Estácio e Vila Isabel). A gente encontra nesse legítimo “biscoito fino” composições do grande Dorival Caymmi (Baiano de nascimento, mas, com certeza, carioca de adoção): Sábado em Copacabana (em parceria com o carioquíssimo Carlos Guinle), Não tem Solução e Nem Eu. Temos ainda do pouco conhecido do grande público Fernando Lobo (mais um que faz parte dessa leva de talentos vindos do nordeste nos anos áureos de Rio de Janeiro como capital do Brasil), pai do grande compositor Edu Lobo, a bela composição em parceria com Antônio Maria: Ninguém me Ama.
À frente de músicas como Alvorada (Cartola e Carlos Cachaça), Risque (Ary Barroso) e Nunca (de Lupicínio Rodrigues) um trio que representa, para mim, parte da nata do novo samba carioca, sim, aquele mesmo ligado a famosa revitalização da Lapa: Pedro Paulo Malta, Pedro Miranda e Nilze Carvalho (que você pode desfrutar ou no Sururu na Roda ou voando solo, tempos bons aqueles que eu, praticamente, pulava a janela da universidade e estava no Centro Cultural Carioca!).
O Cd, muito inteligentemente, funciona num esquema quase constante de pot-pourri! Muito bem arranjadas, as canções foram pensada num roteiro que nos prende desde o primeiro acorde. Confesso, que algumas canções sofrem uma variação que assusta, acredito que funcionam muito bem ao vivo, melhor, funcionaram muito bem ao vivo, naquele esquema gafieira, sabe? Pro pessoal não sair do salão! Mas, como eu disse, no cd, às vezes, dá uma assustada... Porém, nada que comprometa.
Fechando com chave de ouro, tenho que falar nas participações mais que especiais: Cristina Buarque, cantando o clássico Me Deixe em Paz (Monsueto e Airton Amorim) com Nilze, Paulão (em Barão das Cabrochas ao lado do bem humorado e certeiro Pedro Miranda) e, por fim, o grande Chico Buarque, declamando a belíssima (e dificílima) poesia de Carlos Drummond de Andrade, Canto do Rio em Sol.
No instrumental, gente como Marcelo Bernardes nas flautas e Marcos Esguleba na percussão... No coro, engrossando o caldo Teresa Cristina, o próprio Paulão e Cristina Buarque.
Lembranças Cariocas é um alento certeiro na memória de um suburbano, carioca da Baixada Fluminense como eu... Que ainda tem vivo (e que agora nunca mais se apagará) na memória mulheres subindo o morro e cantando: Lata d’água na cabeça, lá vai Maria, lá vai Maria... ou então, quantas vezes não ouvi meu avô em sua oficina (ele era sapateiro), fumando seu cigarro, ao lado do seu radinho de pilha cantarolando: Chora Estácio, Salgueiro e Mangueira, todo Brasil emudeceu. Chora o mundo inteiro, Chico Viola morreu...
Pois é, como disse o grande Drummond que, por maldade, foi eternizado como estátua de costas pro mar: Rio novo a cada menino que nasce/ A cada casamento/ A cada namorado que te descobre como rio-rindo. Assistes ao pobre fluir dos homens e de suas glórias pré-fabricadas (trecho do poema Canto do Rio em Sol). É isso rapaziada... E vamos seguindo!
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Um comentário:
Oi, Bruno, aqui é do blog Poizentao. Vc está em busca do álbum 1970, do JP Simões, certo? O link original é de um outro blogue. Se vc quiser, eu te mando o álbum via wetransfer. Para isso, me mande seu email lá nos comentários da postagem. Abraço.
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